O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa
prevê, como uma de suas ações, a formação de professores alfabetizadores. Essa
ação se dá por meio de um curso, que apresenta uma estrutura de funcionamento
na qual as universidades, secretarias de educação e escolas deverão estar
articuladas para a realização do processo formativo dos professores atuantes
nas escolas, nas salas de aula.
Essa estrutura é composta por dois formadores
diretamente sintonizados com os objetos de estudo e com a sala de aula, ou,
como dizemos, com o chão da escola.
O primeiro, o professor formador, que realizará a
formação dos orientadores de estudo, é vinculado às universidades públicas
brasileiras. O orientador de estudos, por sua vez, organizará, com base nos
mesmos princípios formativos, a formação dos professores atuantes nas escolas
dos três primeiros anos, em diversas regiões do país. Esse “triângulo” formado,
deverá estar muito bem articulado entre si, mobilizando diferentes saberes, os
quais, de uma forma ou de outra, se materializarão em práticas escolares.
As estratégias formativas no Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa
Como sabemos, a formação de
professores está intimamente ligada às questões do conhecimento, do currículo,
das mudanças culturais e das novas tecnologias. O desenvolvimento de uma
cultura de formação continuada, seja na escola ou em rede, depende de diversos
fatores, dentre eles, dos compromissos institucional e individual.
O compromisso institucional (do
governo federal e das secretarias de educação) reside principalmente na
necessidade de promoverem espaços, situações e materiais adequados aos momentos
de trabalho e reflexão, compreendendo que a formação continuada não é um
treinamento no qual se ensinam técnicas gerais a serem reproduzidas. Se
concebemos os professores como sujeitos inventivos e produtivos, sabemos que
eles não serão “repetidores” em suas salas de aula daquilo que lhes foi
“aplicado” na formação para orientar a sua “nova” prática. Sabemos sim que, a
partir de diferentes estratégias formativas, eles serão estimulados a pensar sobre
novas possibilidades de trabalho que poderão incrementar/melhorar o seu fazer
pedagógico cotidiano.
O compromisso individual é compreendido no sentido de o
professor entender-se como pessoa que está sempre sendo desafiada a conhecer
novos caminhos e a experimentar novas experiências. Nesse sentido, para o
docente integrar-se a um programa de formação continuada é importante que ele
saiba que essa decisão associa-se à idéia de que esse processo visa contribuir
tanto para o seu crescimento pessoal, como profissional e não que essa seja
apenas uma exigência ou formalidade institucional a ser cumprida.
Considerando esses fatores, as propostas formativas
deverão buscar entender as diferenças pessoais e os diversos interesses que
configuram os momentos de formação. Para tal, segundo Imbernóm (2010) é
importante considerar, em uma ação de formação, o contexto no qual se dão as
práticas educativas e formativas, e, a partir daí, planejar uma ação destacando
os seguintes aspectos:
• Potencializar a autoestima e as
habilidades sociais por meio de situações que necessitem o desenvolvimento de
cordialidades, gentilezas e solidariedades;
• Favorecer a aprendizagem
coletiva, de troca de experiências, evidenciando a pertinência de estratégias
formativas que favoreçam a interação entre pares;
• Refletir criticamente a respeito
da prática durante o andamento da formação;
• Compartilhar boas práticas;
• Executar estratégias formativas
que assegurem a discussão de exemplos;
• Valorizar diferentes
experiências;
• Escolher materiais de leitura
que solidifiquem a compreensão dos fenômenos estudados.
A partir do conhecimento desses aspectos, pensamos em
algumas estratégias de modo a atender aos princípios destacados acima.
Ressaltamos, entretanto, que a diversificação das estratégias formativas é
necessária no sentido de ampliar as oportunidades de envolvimento dos
professores nos processos formativos como sujeitos ativos.
A proposta de organização da formação de professores no âmbito do
Pacto contempla os princípios discutidos neste texto, concretizados em variadas
estratégias de formação. Considerando a importância de termos determinadas
estabilidades no processo formativo, sugerimos algumas estratégias permanentes
(em todos ou quase todos os encontros).
• Leitura Deleite
• “Tarefas de casa e escola” e
retomada do encontro anterior
• Estudo dirigido de textos
O estudo de textos é importante na medida em que eles
possam contribuir para a reflexão e a compreensão de princípios que orientam as
experiências práticas. Os conceitos, teorias, pressupostos da perspectiva
sociointeracionista são focados por meio dos textos, mas outras abordagens
teóricas são mobilizadas, de modo a ampliar os conhecimentos e aprofundamento
em questões específicas do processo de alfabetização. Desse modo, nos textos
que tratam da apropriação do sistema de escrita alfabética, são travados
diálogos com a perspectiva construtivista. A busca pela articulação entre tal
abordagem e o enfoque sociointeracionista ocorre por meio da explicitação dos
pressupostos das duas abordagens que são articuláveis.
A quantidade de textos da seção Aprofundando de cada caderno é
proporcional à carga horária a ser trabalhada. As unidades com 12 horas têm
três textos e as de 08 horas, têm dois textos. Há, desse modo, um texto para cada
momento da formação (4 horas).
• Planejamento de atividades a serem
realizadas nas aulas seguintes ao encontro.
Refletir sempre a respeito do que é possível fazer em sala de
aula, a partir do que foi trabalhado na formação, é muito importante. Para isso,
o professor precisa analisar de maneira organizada suas condições e
possibilidades de modificação ou readequação de procedimentos e intervenções em
sua prática. A realização de atividades de planejamento de aulas, sequências
didáticas ou projetos didáticos na formação favorece muitas reflexões e
articulação com o estudo realizado na unidade, pois, ao planejar coletivamente,
as dúvidas a as elaborações conceituais são explicitadas e discutidas pelo
grupo.
• Socialização de memórias
Por meio da escrita e da leitura de memórias, os docentes
relembram muitas experiências que marcaram seus percursos profissionais e suas
identidades. Ela pode acontecer de maneira associada a um determinado aspecto a
ser trabalhado na formação, como as memórias de alfabetização, ou abordando
aspectos mais gerais. São propostas atividades de resgate de memórias
realizadas oralmente ou por escrito. Tais memórias podem ser do tempo de
infância, como estudantes, ou das experiências docentes. Desse modo, em
diferentes situações, pode-se solicitar que os professores socializem se já
vivenciaram determinadas experiências e analisem tais vivências com base em
questões relativas aos temas de formação.
• Vídeo em debate
São sugeridos alguns programas com entrevistas, debates,
cenas de sala de aula, que podem ser assistidos pelo grupo, para o
aprofundamento de debates relativos a diferentes temáticas propostas na
formação.
• Análise de situações de sala de aula filmadas ou
registradas
• Análise de atividades de alunos
Esse tipo de análise permite que o professor entre em contato com
as respostas de alunos diante de questões que lhes foram propostas. A análise
das atividades dos estudantes pode ser utilizada principalmente para
identificar as hipóteses das crianças sobre determinado conhecimento, bem como
as possibilidades de reencaminhamento e direcionamento da prática pedagógica.
São sugeridas atividades de análise de textos das crianças, de respostas das
crianças presentes em instrumentos de avaliação aplicados.
• Análise de relatos de
rotinas, sequências didáticas, projetos didáticos e de planejamentos de aulas
A análise de relatos de rotinas, sequências didáticas e
projetos didáticos favorece a reflexão sobre aspectos positivos e negativos
vivenciados por professores ou sugestões de atividades propostas por esses ou
presentes em livros didáticos. As situações já vivenciadas por outros
profissionais e discutidas no coletivo podem servir como pontos de partida para
se pensar nas próprias estratégias didáticas.
• Análise de recursos didáticos
Os recursos didáticos disponíveis nas escolas são potencialmente
úteis no processo de ensino e nem sempre são utilizados/potencializados nas
escolas. Por meio de situações de análise desses materiais pode-se estimular os
usos, dando mais sentido aos programas em que tais recursos são distribuídos.
• Exposição dialogada
A atividade do professor durante a
formação é o que garante o seu engajamento. Portanto, a valorização de seus
conhecimentos é requisito fundamental para que a formação seja, de fato, transformadora.
No entanto, não se pode deixar de lado a importância de sistematização dos
saberes construídos. Por isso, em diferentes situações, a estratégia de
exposição dialogada pode ser uma boa estratégias formativa
• Elaboração de instrumentos de
avaliação e discussão de seus resultados
Essas ações devem acontecer continuamente em todo o
processo formativo, pois o pressuposto básico é o de que a avaliação deve
subsidiar o planejamento da ação docente. A discussão coletiva sobre os
instrumentos de avaliação e sobre os resultados obtidos enriquece o olhar do
professor para o que os estudantes são capazes de fazer, suas dificuldades e
suas potencialidades.
• Avaliação da formação
Avaliar a formação é muito importante, para que o formador tenha
informações que possam ajudá-lo a planejar melhor os encontros e melhorar
naquilo que não se está dando conta. Por isso, é importante ter um instrumento
que os professores possam, ao final do encontro, registrar sua avaliação. Tal
instrumento não elimina a importância da conversa em grupo, para identificação
de aspectos positivos e negativos da formação.
As
estratégias formativas aqui apresentadas são propostas para serem pensadas
pelos professores formadores e orientadores de estudo a partir de um
determinado objetivo e planejamento a ser construído. Elas
integram um conjunto de orientações sobre práticas formativas que podem compor
um determinado planejamento de formação dentro de uma organização e uma
estrutura própria e singular.
Essas estratégias são orientações norteadoras e não ações
pré-determinadas que devam ser seguidas à risca pelos formadores. Ao contrário,
elas devem ser (re)inventadas, (re)construídas e fabricadas a partir das
diferentes realidades sociais nas quais estão inseridas as propostas de formação.
O planejamento da formação inclui também a elaboração e escolha
dos materiais a serem levados para a formação (livros a serem analisados, jogos
a serem vivenciados, lâminas a serem projetadas, dentre outros). Tudo precisa
ser feito com antecedência, para que o tempo seja aproveitado da melhor maneira
possível.
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